Há mais de vinte anos Mike Warner (73) busca comprovar a existência de cobras colossais
com dezenas de metros de tamanho. Anaconodas, sucuris, jibóias gigantes são
descritas em lendas folclóricas principalmente na região amazônica. E no ano
passado em uma expedição com seu filho Greg na Amazônia peruana, capturou a
fotografia acima. Você consegue reconhecer algo estranho?
Warner e seu filho pensam ver a cabeça de uma
cobra com dois metros de largura e estimados 40 metros de comprimento, quase
completamente submersa. Um comportamento furtivo não muito diferente desta
parente, de tamanho bem normal:
Ao inglês Will Elliott a
imagem também pareceu ser evidência de uma Anaconda, e através de um tanto de retoques
e realces, destacou como via um olho, tentáculos secundários e o resto do corpo
da criatura. Confira seus realces, ou assista ao vídeo
abaixo caso ainda não tenha visto cobra nenhuma.
Curiosamente, para Elliott o resto do
corpo da cobra estaria na parte superior. Para mim, ao ver algo como uma cobra
na imagem, pensei exatamente o oposto, que o corpo estaria abaixo e a cabeça
apontando para cima. Esta ambiguidade destaca justamente o
que pode estar ocorrendo aqui. A suposta cabeça de cobra gigante deve ser
apenas pareidolia, uma interpretação
arbitrária de um estímulo aleatório. O registro aéreo em questão pode ser nada
mais que um amontoado de lodo combinado com um tanto de imaginação. Uma segunda
imagem, capturada segundos depois, favorece a ideia de lodo ao invés de um
terrível monstro folclórico. Apesar de estar um tanto borrada.
Outras Anacondas pelo mundo
As imagens recentes da dupla lembram uma outra
fotografia clássica, capturada pelo coronel Remy van Lierde sobre o Congo Belga em 1959. Você confere seu
relato (em inglês) e a fotografia como parte do programa “Mundo Misterioso
de Arthur C. Clarke”:
Lierde estimou que a cobra que
fotografou teria quase 15 metros, mais de cinco metros mais longa do que a
maior cobra já registrada cientificamente. É possível que sua estimativa
estivesse correta? Talvez, como é possível que estivesse errada. A cobra que
fotografou era sem dúvida muito grande. A Amazônia, em especial o Brasil, é
origem para ainda mais histórias e fotografias. Uma muito famosa foi publicada
pelo Diário de
Pernambuco em 24 de
janeiro de 1948 – uma “Sucuriju Gigante”, também de 40 metros, com cinco
toneladas. A fotografia impressiona:
Mas a cobra era certamente muito menor
do que aparenta. As pessoas ao fundo estão mais distantes, enquanto a cobra
está próxima da câmera. A técnica para fazer com o objeto pareça maior do que
realmente é em comparação com objetos ao fundo é conhecida como perspectiva forçada. O mesmo efeito pode ser visto em outra foto
publicada de uma enorme jibóia de 49 metros (!) pelo jornal A Província do Pará,
e abordada aqui em Ceticismo Aberto. Somando-se a estas confusões e
exageros com técnicas de fotografias um tanto criativas, há ainda as fraudes,
incluindo as digitais, como a cobra gigante de Bornéu circulada no ano passado.
Terror além da imaginação
Mike e seu filho Greg planejavam
voltar à região em agosto, mas não conseguiram acumular as doações necessárias.
Sua evidência pode parecer muito pouco sólida, mas seus esforços são no mínimo
interessantes. No sítio “Big Snakes”, buscam
partilhar suas ideias, análises e mais registros, incluindo este trecho de um
noticiário local.
Um pequeno povoado peruano estaria
aterrorizado por uma Anaconda. Teria algum dos aldeões visto o monstro? Não, o
motivo do terror foi o surgimento de uma grande área de lodo após fortes
chuvas. Após assistir ao filme “Anaconda”, ao invés
de interpretar a enxurrada como uma simples enxurrada, os locais pensam que
seja o rastro de uma anaconda que se dirigiu a um rio depois das chuvas. Isso,
sem que ninguém tenha visto a criatura em si mesma.
Pode parecer outra história de
credulidade, como realmente deve ser, mas a história é em verdade muito comum.
Há diversos registros datando de longa história onde grandes áreas de
enxurradas são interpretadas como trilhas provocadas por monstros sem pernas. O
conhecido explorador Percy Fawcettconta
ter encontrado um réptil com quase vinte metros de comprimento, e então
comenta:
“Espécimes tão grandes podem não ser
comuns, mas as trilhas nos pântanos alcançam a largura de 1,80 metros e apóiam
declarações de índios e seringueiros de que a anaconda por vezes alcança um
tamanho incrível, tornando em comparação a que eu matei uma anã. A Comissão de
Fronteira Brasileira me disse que uma morta no Rio Paraguai tinha mais de 24
metros de comprimento!”.
As fotos do lado tomadas por Mike e
Greg, bem como o lodo no povoado peruano não são realmente nada
impressionantes. Porém, a fascinação e mesmo o medo que podem provocar em
mentes humanas justamente a partir de algo tão pouco impressionante é
fascinante em si mesmo.