Elaboração: Franklin do Carmo Oliveira
PRADO,
Marcos. Estamira. Documentário. Brasil: Riofilme/Zazem Produções
Audiovisuais, 2005. Duração 115 min.
Estamira
é um documentário produzido pelo diretor, produtor e fotógrafo Marcos Prado,
Carioca brasileiro nascido no Rio de Janeiro em 1961 que recebeu 23 prêmios
nacionais e internacionais. Prado iniciou seus estudos em Brooks Institute of
Photography, localizado na Califórnia entre os anos de 1983 e 1986, além de
publicar várias revistas, livros e jornais como: O Globo, Folha de São Paulo,
Trip, Jornal do Brasil, Veja, dentre outros. Além de Estamira, um dos seus
maiores sucessos foi à publicação do livro de fotografias Jardim Gramacho, onde
trabalhou durante um período de onze anos no aterro sanitário do Rio de
janeiro.
Estamira
é uma senhora de 63 anos que há alguns anos já foi uma mulher bonita, casada e
com uma moradia confortável, mas que hoje é considerada como louca e perturbada
por alguns e especial para outros, teve uma infância sofrida com abusos e que passou a viver no
lixão há mais de vinte anos, local de onde retira seus alimentos, vestis e
demais coisas para sua casa. Sua história se passa no Aterro
Sanitário do Jardim Gramacho, localizado na cidade de Duque de Caxias no estado
do Rio de Janeiro, onde por dia é despejado mais de oito mil toneladas de lixo
uma situação lamentável, local que tem a convivência de humanos e animais com o
mesmo objetivo, sobreviver.
Esse
documentário é bastante diferente, pois toca, emociona e mexe com os
sentimentos, relata uma sociedade sofrida, onde centenas de catadores sobrevivem
do aterro sanitário e retiram dele tudo que precisam. Lugar que alguns vêem
apenas lixo outros enxergam uma forma de sobreviver um mundo de riqueza para
alguns, mas que ao mesmo tempo traz milhares de problemas à saúde dos que vivem
e moram no local. Não é a toa que Estamira ganhou tantos prêmios, pois mostra a
realidade do dia-a-dia dos catadores e que mesmo em um lugar onde só exista miséria,
sofrimento e dor, ainda existe uma cultura, trabalho de equipe e cuidado uns
com os outros.
Estamira
é um tipo de pessoa difícil de definir, ela não considera o Jardim Gramacho como um lugar de sofrimento e sim
um lar, uma casa que é um lugar sagrado. É complicado julgar em
suas falas quando são reclamações ou relatos, além do mais sofreu abusos quando
criança, não teve uma vida fácil depois de adulta, se separou dos seus filhos,
além de ser traída por todos seus maridos, onde um deles a fez internar sua
própria mãe, que é um dos seus maiores sofrimentos. É a partir desse momento que
Estamira passou a ouvir vozes e ter delírios e alucinações que foi a única
maneira de fazer escapar do seu passado vivenciado. Logo após iniciou seu
tratamento psiquiátrico, com atendimento pela rede pública, onde passou a tomar
remédios controlados nos quais os chamavam de drogas.
Estamira
define Deus como um ser criado pelos homens, um hipócrita, mentiroso, esperto
ao contrário que joga a pedra e esconde a mão e que permite
toda espécie de “trocadilhos”, como o mal parecer bom, o feio parecer belo, o homem
explorar o próprio homem, Estamira diz que o homem é o único condicional, frase
mais repetida por ela durante todo documentário, ou seja, o que realmente
significa, é que o homem é o único responsável por tudo aquilo que lhe acontece.
Outro ponto que chama atenção é o comportamento que Estamira teve diante as
gravações, ela se sentiu bastante à vontade.
Uma
das coisas mais importantes durante o documentário é que a todo o momento
Estamira diz que tem como missão a busca da verdade e mostrar ao mundo, muitas
das coisas que ela fala com a pronúncia eu, na verdade está se referindo a
todas as pessoas que vivem na mesma situação, que toda miséria, loucura e os
momentos de lucidez é devido a Questão Social e das desigualdades e quando um
dos amigos de Estamira surge no meio do lixo e começa a apresentar os cachorros
um a um.
Estamira
consegue ter raciocínios muito sólidos, pensar em termos de causa e
conseqüência o que não é muito típico em uma pessoa que é considerada como
louca, neste caso, Estamira se enquadra mais em uma filosofia mais racional
como a filosofia grega. Ela tem a capacidade de explosões emocionais, a todo o
momento Estamira tem idéias quando anda e tem uma vida muito interna.
Fica claro no decorrer
das cenas desse documentário como é a situação do ambiente de um aterro ou
lixão. As grandes tempestades e
exposições de gases metano que causa a poluição do ar e contribui para o
aquecimento global, o acúmulo de resíduos líquidos (CHORUME) que causa a
contaminação do solo e pode atingir o lençol freático, isso caso o local
escolhido para o aterro não tenha sido feito um estudo antes da instalação e a
enorme geração dos resíduos que são descartados incorretamente pela sociedade,
sendo que muitos desses resíduos poderiam ser reaproveitados, reutilizados ou reciclados para gerar novos produtos e ter um
retorno financeiro.
O
que mais chama atenção nesse documentário é que Estamira consegue
ser extremamente racional quando quer também filósofa e tem muitos amigos no
aterro sanitário. Ela tem uma capacidade de conviver com eles numa mistura, por
que ela os deixa serem eles, uma característica impressionante de Estamira de
conseguir conviver com pessoas iguais e ao mesmo tempo diferentes de si mesma,
que é uma característica forte da amizade.